
POR UM PLANEJAMENTO BIOÉTICO DA CIDADE DE PLANALTINA - DF
Trata-se de uma situação localizada, mas suas causas, num mundo cada vez mais interligado pelas tecnologias de comunicações, provém de longe, assim como os seus efeitos farão eco a longas distâncias.
Uma realidade que transpõe a passagem do milênio com reduzidas perspectivas de mudanças para o futuro. Mais de 50% da população Planaltinense, não possui o ensino fundamental completo. 25.39% ganham até 2 salários mínimos. De 1997 para cá o crescimento dos condomínios promoveram a alteração destes números, tanto pelas novas invasões quanto pela prática comercial dos chamados “mei-lote”. Além disso, Planaltina recebeu muito pouco apoio na área educacional, apenas um Centro de Ensino Médio e uma enormidade de anexos que levaram a supressão, em muitas escolas, de salas normalmente utilizadas para Artes, Coordenação Pedagógica, Apoio, Recursos, etc. atividades consideradas pela Secretaria de Educação como menos importantes, a fim de atender a demanda por vaga, tanto no Ensino Médio, quanto no Ensino Fundamental. Tais medidas não solucionam o problema de atendimento da demanda em nenhum dos níveis. Foram construídas também três escolas de madeirite, às quais funcionam precariamente, sem infra-estrutura pedagógica e administrativa própria, necessárias a um atendimento de qualidade. Estas escolas, construídas no primeiro ano do atual governo, em caráter provisório, chegaram ao último ano do mandato, 2002, sem uma solução para o caráter provisório com que foram construídas. Além disso, o nível de desemprego e a demanda por moradia tem aumentado em todo o DF. Estes dados e as situações que se seguirão, nos apontam uma comunidade carente das condições mínimas para a compreensão de um mundo que se quer moderno. No discurso político Planaltina está inserida nesse contexto de modernidade, mas na prática está à margem, incapaz de compreender e usufruir dos avanços das biotecnociências e sem perspectiva de inserção social para sua população.
Sem entrarmos na discussão acerca da Santidade ou Sacralidade da vida,(KUHSE, 1987 – SINGER, 1994) é importante considerar que não nascemos pessoas, mas nos tornamos pessoas com o processo de socialização. E que, somente na cultura existe a idéia de pessoa, de humanidade, assim como a idéia do dever ou não morrer. Nada há na natureza que nos diga acerca do valor da vida. O valor da vida é construído moralmente, ou seja através da cultura. Se estamos a abandonar as pessoas à própria sorte, é preciso lembrar que isso significa o mesmo que deixá-las morrerem. Aliado a esta atitude criminosa que se resume em ignorar o outro, em pensar que “nada tenho a ver com isso”, estamos deixando morrer as pessoas desta e das próximas gerações. Estamos cometendo um crime socioambiental de grandes proporções.
A cidade constitui este espaço de busca da modernidade, um espaço construído sob a influência das contradições inerentes ao capitalismo dito também moderno. Daí a importância da reflexão bioética, que assinala a sua preocupação com as questões sociais desde Potter.
“Em 1970-71, V.R. Potter publica seus pensamentos e preocupações com o futuro da humanidade, considerando as ameaças trazidas com a expansão tecnocientífica contemporânea. Cria o neologismo “Bioética” propondo uma ética que salvaguarde a vida na terra e só muito recentemente tem sugerido o termo “ética global”
Um pouco da história de Planaltina( Magalhães, 1998 ) e de sua realidade atual, pode nos permitir entender a importância da terra, de sua propriedade e de sua ocupação, na formação da cidade, o que ela representa no contexto da geografia das nascentes da Bacia Platina e Tocantins e o quanto é importante um planejamento urbano norteado por uma bioética forte, em prol da qualidade de vida de seus habitantes.
É interessante considerar o esclarecimento de um dos maiores pensadores latino-americano sobre a origem da bioética. Para Miguel Kottow, “lo más característico de la reflexión bioética gira en torno a una persona que sabe hacer algo y una persona que será afectada por esta acción. El que este acto sea de alta sofisticación o más bien cotidiano no afecta a la substancia sino únicamente a la magnitud de los problemas a discutir.
De manera que el origem de la bioética alberga lo que parece ser una paradoja, pues desde un movimiento de características sociales emerge un salvataje de la dimensión individual de la ética, de la buena vida y el proyecto singular de cada uno. Esto no es, sin embargo, contradictorio, pues há de entenderse que todo movimiento liberatorio utiliza la fuerza social para ganar algo concreto para cada uno de sus miembros. Ahora bien, si miramos brevemente las direcciones en que apunta la bioética, encontramos que se desdibuja el factor individual y reaparece la preocupación por el bien común, mejor o peor integrado com la buena vida de cada uno”. (Kottow 1998 p. 82)
Esse movimento entre o individual e o coletivo, o público e o privado se faz através de pessoas, pessoas que têm e que não têm a posse, a propriedade ou o poder sobre a terra.
... a seguir: planejamento bioético e compromisso com a vida.